domingo, 3 de outubro de 2010

Das coisas incríveis que vi (parte 3)

Um grupo "perfeito" (porque eles também erram... perdem tempo, esbarram em notas, erram harmonias, melodias... são humanos) como o BMQ obviamente precisa de uma equipe "perfeita" em volta. E depois de passar pouco tempo vendo os dois trabalharem, eu acho que é esse o caso.

Rob Hunter, técnico de som, é um inglês divertido. Entende muito de som, tem uma sensibilidade gigante, ouve pra caralho, e é responsável por fazer a banda soar como deve soar pro público. E ele faz isso como poucos.
Se você for perguntar pra ele, ele vai responder que não faz nada a não ser controlar o monstro que sai de dentro do BMQ pra manter o show num nível aceitavel (não só de volume, mas de energia e equilíbrio).
Verdade que um bom piano sempre ajuda. E quando o pianista é excelente, fica ainda mais fácil. Mas ainda é o Rob quem escolhe e posiciona os microfones. Quem equaliza e mixa o som dos 3 que ele usa dentro do piano.
Verdade que o Eric tocando baixo tira um som que não precisa de muito pra soar foda. Mas ainda é o Rob quem escolhe e posiciona os microfones. Quem equaliza e mixa o som dos 2 que ele usa em frente ao baixo.
Verdade que bateria normalmente soa sozinha num ambiente quase acústico. E que o Justin tira um som do kit dele que é inacreditavelmente equilibrado. Mas ainda é o Rob quem escolhe e posiciona os microfones. Quem equaliza e mixa o som dos 5 que ele usa na bateria.
Verdade que o Branford tem um timbre e um volume, tanto no soprano quanto no tenor (e chegando lá no alto) que ele consegue soar com a banda tocando e ele, completamente acústico. Mas ainda é o Rob quem escolhe e posiciona o microfone. Quem equaliza e mixa o som do dono da banda.

E no final, fica mesmo só o trabalho de conter os ânimos sonoros do quarteto pra não assassinar a plateia, seja fazendo demais ou fazendo de menos. Não é um trabalho que exige muito esforço de preparação do som. O grupo é muito bem equilibrado por si só acusticamente, e isso costuma ser um grande facilitador na hora de amplificar. Mas tanta energia quanto gastam os músicos no palco, gasta o Rob pra se manter concentrado em cada detalhe do que está acontecendo durante a performance, pra ter certeza de que ele está fazendo exatamente o necessário (nem mais, nem menos) pra contribuir com o show. E ele consegue isso (até onde eu sei) sempre.

E atrás do palco, quem cuida dos 5 (4 músicos e 1 técnico) é o Road Manager da banda. Rod Ward. É ele quem cuida das necessidades de cada um dos músicos. Quem monta e desmonta o palco junto com o Rob. Quem se certifica dos detalhes do palco (água, toalhas, etc). Quem cuida dos camarins. Quem resolve problemas de última hora. Quem dá ou nega acesso ao grupo. Quem organiza calendários e finanças. Quem cuida dos instrumentos pré e pós shows. Basicamente, o braço direito do trabalho todo.
Passei bastante tempo conversando com o Rod nas vezes em que nos encontramos. Na primeira delas, em São Paulo 2004, foi ele quem me disse que eu devia procurar o Branford no dia seguinte do show pra passar mais tempo com ele porque isso era uma oportunidade que eu não podia, de jeito nenhum, deixar passar. E nesses dois últimos dias, conheci o cara que está trabalhando há tantos anos nisso (desde antes da época da incrível banda do Sting nos anos 80, equipe da qual o Rod fazia parte) que o trabalho já parece ser parte da natureza e da personalidade dele. Um sujeito calmo, controlado e altamente eficaz. Me disse que aprendeu há tempos atrás que ficar nervoso com as situações e problemas não ajuda em nada. E que hoje, ele não muda o tom de voz pra resolver qualquer problema, por mais absurdo que seja.
E por mais que se escute uma ou outra reclamação aqui ou ali (normalmente de coisas que os músicos reclamam uns pros outros mas não reclamam pra ele, porque se reclamassem essas coisas estaria resolvidas), todos estão muito satisfeitos com o trabalho dele há muitos anos. O que me faz acreditar que ele também é "perfeito".

Não reclamo das equipes que cuidam de mim em minhas bandas. Gosto muito delas, aliás. Acho ambas bastante eficazes e sérias. Assim como eu, ainda têm muito o que aprender e melhorar. Até porque, quando se acha que não é mais preciso aprender ou melhorar, é quando chegou a hora de abandonar o assunto por completo porque ele perdeu o interesse.
Adoraria ter uma equipe "perfeita" como a do BMQ. Mas acredito que, tanto a banda quanto a equipe, são uma verdadeira seleção de peças perfeitas pro trabalho perfeito, que é completamente especial e raro.
Continuo cobrando das minhas equipes que sejam tão profissionais, eficazes e "perfeitas" quanto eu tento ser nos meus trabalhos. Isso já me satisfaz

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