quinta-feira, 16 de julho de 2009

USA Today (part 19)

Saí de LAX (passei em frente ao famoso letreiro do aeroporto, iluminado de noite, e não tirei uma foto... quase não vi o letreiro, aliás, mas minha tia me apontou a tempo) quase 2 da manhã (PST) pra um longo voo de 4 horas até Atlanta, onde desembarquei as 8 da manhã (EST). Lá, esperei 4 horinhas até embarcar pra Cleveland, de onde escrevo. Cheguei aqui as 2 da tarde (EST), fiz o check-in internacional da Continental pra Houston e Rio de Janeiro, passei pela segurança (o que é sacal aqui nos EUA, especialmente com mochila, casaco, saxofone, dois computadores e os tênis que têm que passar pelo raio-X) e fui procurar meu portão de embarque.

Chegando terminal C, onde embarcarei em três horas, resolvi sentar no primeiro dos portões (em Atlanta eu andei até o meu portão que, obviamente, era o último do terminal C, só pra descobrir 15 minutos depois que não só meu portão havia mudado como meu terminal era agora o B) pra evitar a fadiga. Sentei a tempo de ver uma moça com uma criança no colo se despedir do seu marido. O sujeito entrou no avião e a moça desandou a chorar. Fiquei me perguntando quanto tempo será que o sujeito ia passar fora pra moça estar tão sentida. Minha resposta veio logo... atrás dela chegaram outros 5 adultos e 2 crianças correndo tentando encontrar seu parente que também tinha embarcado no mesmo avião.

A primeira coisa estranha a notar é que aqui nos EUA, assim como no Brasil, você não pode acompanhar uma pessoa até o portão de embarque a menos que você também vá voar, porque a segurança exige o cartão de embarque da companhia aérea. Então, como essas 9 pessoas (6 adultos e 3 crianças) tinham conseguido chegar até a porta do avião?
Aparentemente, há uma exceção. Os 5 adultos que chegaram depois, chegaram perguntando pelos soldados que tinham embarcado no voo pra Houston das 3 da tarde. O funcionário da Continental perguntou se eram família, eles confirmaram, e foram levados pra dentro do avião pra uma última despedida.

Não é de se espantar que uma despedida seja tão triste e sofrida. Independente de quanto tempo os soldados vão passar fora, não deve ser fácil mandar um familiar seu pra guerra. Por mais que a guerra tenha acalmado e as coisas pareçam menos perigosas, ainda assim é uma guerra e não existe nenhuma garantia de que eles vão voltar.
A moça que chorava quando eu cheguei ao portão voltou de dentro do avião mais tranquila, acompanhada da família do outro soldado que ela não conhecia. Olhando de fora, é quase como se eles tivessem acabado de formar uma nova família pelo simples fato de seus familiares estarem indo pra mesma guerra.

As duas famílias, que não se conheciam até chegarem à porta do avião, ficaram vendo o avião taxiar (ou taxear? acho que voto na primeira opção) até sumir da vista. Tiraram fotos uns dos outros, das crianças, pra mandar pra seus familiares, e somente depois de ido o avião é que foram se apresentar uns aos outros. Não tenho a menor ideia de quanto tempo esses soldados vão ficar fora mas, pensando sempre no bem das pessoas, que voltam inteiros e saudáveis pra reencontrarem suas famílias assim como o soldado que veio de Atlanta até Cleveland do meu lado no outro voo.

Essa, uma história um pouco mais alegrinha. Por aqui vê-se muitos soldados fardados rondando os aeroportos entrando e saindo de voos. Uns indo trabalhar e outros voltando pra casa. Ao meu lado no pequeno (e assustador, claro) avião da Delta de Atlanta pra Cleveland veio um desses.

Chegando em Cleveland, numa conversa com a comissária de bordo e alguns outros participantes, ele disse que tinha 5 crianças (4 filhas e 1 filho), a mais velha de 8 e a mais nova de 1 ano. E que essa ia ser a primeira vez em 4 meses que ele ia vê-los. O avião parou e ele foi o primeiro a sair. Eu fui o último.

Quando cheguei à esteira pra pegar minha mala, lá estava o soldado, sendo recebido por umas 10 crianças, mais uns 10 adultos e uma faixa enorme que não consegui ler o que dizia. Cheguei quando ele pegava a filha de 1 ano no colo e ela estranhava aquele sujeito. O cara passou um terço da vida da menina longe. Ela levou um tempinho pra re-acostumar ao colo do pai, mas logo logo se acomodou confortavelmente.

Todo mundo que passava e via aquela festa ficava emocionado, batia palmas, abria sorrisos. De novo, não interessa se a guerra está acabando, ou se já não é mais um perigo tão grande, ou se o sujeito trabalha como engenheiro ou sei lá o que e nunca pega numa arma o tempo todo que está fora... ainda assim é uma guerra e não há a menor garantia de que se voltará vivo dela. Claro, qualquer um que sai de casa não tem garantia de que vai voltar vivo pra ela (ainda mais em cidades violentas como o Rio), mas numa guerra as coisas são um pouco mais explícitas.

Admiro o orgulho que os americanos têm dos soldados que estão servindo nessas guerras loucas que os EUA criam e não sabem terminar. É realmente um sentimento de gratidão pelos serviços prestados. Ninguém está interessado em saber se o sujeito participou efetivamente de alguma batalha ou se ele ficou o tempo todo na frente de um computador dando ordens pelo rádio. Todo mundo aqui tem orgulho dos soldados, mesmo que sejam contra as guerras.

Eu resolvi abrir o computador e escrever isso pra postar quando encontrasse internet (aqui em Cleveland a porra do plano que eu assinei, que a infeliz da mulher garantiu que cobria, não tem internet disponível). O começo e o final (feliz) da vida das famílias de soldados servindo em guerras.

Agora resta esperar mais 2 horas pra embarcar pra Houston. Estou devorando meus últimos Kit-kats (alguém explica por que não existe kit-kat no Brasil?), tomando meu último Montain Dew (que agora se chama Mtn Dew, ou sempre se chamou e eu nunca reparei), aproveitando minhas últimas horas nos EUA (mesmo que só em aeroportos) antes de finalmente voltar pra casa.

Em Houston não vou ter muito tempo pra ficar de bobeira então talvez só entre na internet mesmo pra postar isso na uma horinha que tenho entre meu desembarque e embarque final.

Já estou na rua há 12 horas e ainda tenho mais 15 pela frente até desembarcar no Galeão. Putaquiupariu!

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei as coisas que você escreveu. Só não concordo com admirar o orgulho que sentem dos soldados...Esse orgulho costuma me soar como grande ignorância, um desvio cultural, algo incutido nas cabeças das pessoas e que dificulta ainda mais o fim das famigeradas guerras...enfim. Beijos, te adoro

d disse...

Em alguns casos é uma grande ignorância mesmo. Mas nem sempre... muita gente é contra a guerra mas se orgulha de ter gente que vai lá e faz o serviço de arriscar a vida pelo país. É meio contraditório, mas tem disso também.
beijos também

amourinha disse...

Ficou poético o post
está cada dia melhor nesse negócio de escrever..